Sobre o final de ano e a indiferença nossa de todos os dias
Pessoalmente, eu não gosto destas festas de final de ano. Sinto como se
o mundo ficasse numa hipnose coletiva, num rito esvaziado. Aglutinam-se em
centros comerciais e supermercados – entre nozes e roupas brancas -, compram-se
presentes e fazem-se votos geralmente vagos.
Definitivamente, estas datas me deprimem. O frenesi de uns poucos
instantes e os votos embebidos em palavras repetidas, como mantras engasgados e enfraquecidos,
são seguidos de amnésia e indiferença nos dias que se seguem.
Tentando fugir a este vazio, eu queria desejar algo diferente: que todos
sejamos capazes de formar coletivos melhores. Que sejamos capazes de diluir a
nossa indiferença quotidiana – aquela que nos faz olhar para um Outro como se
não fosse problema nosso e que nos cega na busca compulsiva do nosso próprio
sucesso. Nós, que cobiçamos tecnologias de comunicação cada vez mais ousadas,
mas que podemos ficar mudos diante das injustiças que vemos serem cometidas.
Em vez de desejar a todos uma paz difusa e branca, feita de tudo e,
portanto, de nada, desejo que todos sejamos menos conflituosos, que lutemos por
mais igualdade (aquela em que gostamos tanto de ser inseridos) e que fomentemos
menos a competição. Em vez de desejar prosperidade – que é um termo, por sua
natureza, individual, acumulador e egoísta -, desejo que sejamos capazes de
maior divisão, de uma escuta mais ativa, de um coração verdadeiramente mais
alargado. Em vez de desejar que o amor caia feito um bólide ou que venha
embrulhado como presente, prefiro desejar que amemos mais e
incondicionalmente. Apesar de nossas feridas, do nosso tédio e da vida dura.
Desejo, enfim, que vejamos o mundo com mais clareza - sem cortes ou
edições -, que batalhemos concretamente para modificar aquilo que nos incomoda
(para além das paredes de facebooks e twitters), que ponhamos em
desconforto a nossa própria indiferença. Mais que tudo, que atuemos coletivamente sempre que a injustiça predomine no tecido social. Estimulemos formas coletivas e solidárias de produção, consumo, crédito e distribuição. Respondamos ao sistema com sistemas paralelos e alternativos. Não só de bons pensamentos e ideias precisamos, mas também da atitude e decisão de nossos braços e pernas. O mundo é feito no asfalto (ou na terra).
Que o ano de 2013 seja um ano de afirmação das diferenças. Não como
hierarquias – que é o que a sociedade de consumo destila em nós -, mas como
iguais no direito de fazer valer a diferença.
Querida Lu, primeiro, vou no mantra: Feliz 2013!!!
ResponderExcluirConcordo com todo o seu "wish list" mas... implicaria mudar a forma como o ser humano sempre foi.
Sonhar é preciso e impreciso, portanto, não obstante, prosseguirei -- como você -- sonhando e formulando desejos de que todos (quanto possível...) estejamos mais presentes na dimensão do espírito e menos na alienação e ganância.
Beijos e... continue guerreira!!!
Homero