Consumo e neoextrativismo
O Projeto Alice, coordenado pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, tem entrevistado renomados pesquisadores de todo o mundo para debater temas diretamente relacionados à emancipação social. Disponibilizo abaixo uma destas entrevistas, com o economista equatoriano Alberto Acosta (à esquerda). Alberto Acosta vem discutindo, assim como o uruguaio Eduardo Gudynas, a questão do neoextrativismo - temática que reflete a permanência de um imaginário moderno de desenvolvimento mesmo em países de esquerda na América Latina. Mineração e hidrocarbonetos continuam na linha de frente das principais políticas económicas.
Há uma relação estreita entre este neoextrativismo em países latinoamericanos e os níveis de consumo expressos no modo de vida ocidental que se espraia a partir da globalização. Esta relação é invisível porque raramente estabelecemos conexões entre o consumo material e as práticas extrativistas. Este exercício, entretanto, poderia nos ajudar a perceber a relação entre consumo, economia e geopolítica. Hidrocarbonetos não são apenas combustível para alimentar nossos carros. Também alimentam, por exemplo, a indústria de cosméticos, estando presentes em produtos de uso cotidiano como batons, shampoos e cremes hidratantes, para citar alguns (neste setor). A mineração, por sua vez, sendo bastante diversa, pode manifestar-se em diferentes setores económicos: do coltan em celulares e laptops (e que tem estimulado a guerra civil no Congo) ao antimónio das embalagens de pasta de dente.
Os minérios estão em toda a parte e sua presença se expande à medida que nossos hábitos de consumo se diversificam: estão nas embalagens para os inúmeros produtos que compramos (alumínio), nos automóveis que famílias reúnem nas garagens (zinco, níquel, manganês) e em diversos produtos cosméticos que cercam os rituais da estética (zinco e minerais do grupo do talco). Interessa aqui observar que à medida que ampliamos a descartabilidade dos produtos que nos cercam, mais recursos se movem nesta geopolítica da mineração. E de forma pouco justa. Os números reluzentes desta mobilidade, que parece revestir os países exportadores com uma aura de crescimento económico e desenvolvimento, não só atualizam um colonialismo económico entre países, mas também promovem e naturalizam um colonialismo interno, com populações sendo expoliadas em seus direitos sobre seus territórios. A descoberta de importantes recursos naturais em terras indígenas e a voracidade com que as leis em vários países (nomeadamente no Brasil) ameaçam as condições de consulta efetiva acerca destes recursos é um exemplo do tipo de conflito que o neoextrativismo provoca.
Abaixo, compartilho o link para a entrevista feita por José Luis Exeni, no âmbito do Projeto Alice, com Alberto Acosta, bem como link para artigo de Eduardo Gudynas. O terceiro link é para a matéria jornalística "Para que serve a mineração no Peru?", publicada no Brasil de Fato.
http://alice.ces.uc.pt/en/index.php/transformative-constitutionalism/alice-interview-02-alberto-acosta-jose-luis-exeni-29032012/
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4178:amlatina271209&catid=62:eduardo-gudynas&Itemid=131
http://www.brasildefato.com.br/node/10345
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