Consumo de bens simbólicos na infância

O que a gente não vê na TV

 O consumo infantil de bens simbólicos merece atenção. Conteúdos televisivos, músicas, anúncios, brincadeiras e histórias infantis significam sempre mais do que parecem. Como subtexto no discurso da fantasia, as crianças consomem, em grande escala, representações de beleza, de justiça, de verdade. Não entendem, é claro, os mecanismos por trás desta "produção de verdade". Não são as únicas. A maioria de nós também não compreende muito bem.

Recentemente, o Instituto Alana encaminhou representação ao Ministério Público Federal contra a Discovery Kids. Em promoção intitulada "Discovery Kids procura apresentadores", o canal fechado propõe que as crianças fiquem "ligadas", todos os dias, por uma média de seis horas, para anotar palavras-chave divulgadas durante a programação. Vamos agora à análise do que isto significa, no fim das contas. Com a promoção, Discovery Kids garante a verba oriunda dos anunciantes que, por sua vez, têm audiência cativa. Se o anunciante tem a certeza do retorno do investimento, mantém o endereçamento da verba. Do mesmo modo, a promoção também estimula que a criança deseje, muito cedo e sem noção do que isto implica, integrar uma ambiência espetacular. A realidade passa a ser pincelada com ingredientes da fantasia e do mundo mágico da televisão. Uma criança apresentadora não leva uma vida de criança. Tem agenda de adulto.

Contudo, mais do que qualquer coisa, seria importante ater-nos à natureza do que é consumido entre anúncios divertidos e desenhos de princesas, dragões e super-heróis na luta do bem contra o mal. Quais os signos, os valores e as representações (de gênero, de raça, de classe) em evidência? Para a publicidade infantil, fica a pergunta: que efeito terá, para um criança, a exposição ostensiva e intensiva a conteúdos que definem que a beleza e o bem juntos caminham, que bom é crescer rápido e que a competição é inerente ao ser humano?

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