"´É hora de ir pra cima". A resposta do movimento indígena na voz de Sonia Guajajara



Num momento tão difícil como o que passam os povos indígenas no Brasil, gostaria de compartilhar aqui uma matéria da Carta Capital, que está começando a circular no facebook. Trata-se de uma entrevista com Sonia Guajajara, que acaba de ser nomeada a Coordenadora Executiva da APIB - Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.
Um vento bom sopra com as palavras fortes de Sonia Guajajara - "É hora de ir pra cima, para o embate". Em um momento onde as notícias frequentes são terríveis - nomeadamente em relação às hidrelétricas e aos mapas minerários -, a resposta assertiva de Sonia Guajajara, à frente da APIB, faz-nos pensar que a situação é difícil, mas a articulação entre as etnias está acontecendo. A violência contra os povos indígenas no Brasil tem sido algo assustador e confirma percepções do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos acerca da naturalização de hierarquias que se estabelecem pelo direito e pelo discurso científico. Que o diga a PEC 71/2011, que está agora na Comissão de Justiça e Cidadania e pode alterar o direito dos povos originários sobre suas terras (permitindo a indenização de possuidores de títulos relativos a terras declaradas como indígenas, se eles tiverem sido expedidos até 5 de outubro de 1988*). Ou a famosa PEC 215, que propõe que seja do Congresso Nacional a responsabilidade pela demarcação das terras indígenas. Ou ainda a chamada PL da Mineração que transforma a consulta aos povos indígenas num ato retórico. O que não faltam são projetos de lei e projetos de lei complementares ameaçando os direitos dos povos originários. A última novidade é o PLP (Projeto de Lei Complementar) 227, que define exceções à exclusividade no direito de uso das terras indígenas. 


Junto com tudo isto, laudos técnicos atendem aos interesses de grandes companhias, como assim demonstra o caso crítico da Hidrelétrica São Manoel, no Rio Teles Pires - a poucos metros da Terra Indígena Kayabi. Há uma matéria muito interessante da ativista Telma Monteiro pondo a olho nu os bastidores do laudo técnico relacionado a esta hidrelétrica (http://telmadmonteiro.blogspot.pt/2013/09/hidreletrica-sao-manoel-cronologia-de.html). Aliás, é uma festa de hidrelétricas previstas entre o Mato Grosso e o Pará (principalmente no rio Teles Pires e na Bacia do Tapajós). Conforme dados do ISA, também divulgados por Telma Monteiro, o governo brasileiro pretende construir 16 !!! hidrelétricas na Bacia do rio Tapajós, onde vivem cerca de 10 mil indígenas (dentre os quais os Munduruku, de que tanto temos ouvido falar). Isto sem falar nos mapas minerários e nas autorizações de lavra, avançando exatamente a partir do caminho traçado pelas hidrelétricas nas terras indígenas.

Diante de todas estas ameaças, as palavras de Sonia, bem como sua capacidade de mobilização, são sinais de que os ventos podem, sim, mudar de rumo. É mesmo "hora de ir pra cima".

Abaixo, o link para a entrevista de Sonia Guajajara na Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/politica/201ce-hora-de-ir-para-cima-para-o-embate201d-4865.html

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