Por trás do álcool, o cortador de cana


Ontem conversamos, lá na UERJ, sobre muitas coisas. Entre elas, sobre as relações e as condições de trabalho que subjazem às nossas práticas de consumo.

Acho importante repetir um dado que mencionei ontem e que dá um pouco a dimensão do trabalho de um cortador de cana, por trás da sofisticação e do conforto dos carros que se alimentam do álcool como combustível.

Um trabalhador de canavial, que literalmente se esforça como um maratonista (veja sobre isto "Quem corre, não chupa cana"), corta cerca de 12 toneladas de cana por dia. Segundo relatório da Embrapa, este cortador de cana caminha quase 9 km (8.800m) diários, fazendo cerca de 800 trajetos com 15 kg no braço por distâncias de até 3 metros. Eu disse 800 trajetos.

  

E porque deveríamos saber mais sobre estes processos? Por que o consumo não é só construção de pertencimento e de distinção social. O consumo constitui também um sistema de classificação social, alimentando no seu próprio discurso (midiático, publicitário e institucional) certa invisibilidade e naturalização das condições de vida e trabalho de um sem-número de mulheres e homens anónimos.

Por certo que não vamos eliminar o consumo de nossas vidas. Mas devemos ter ciência do que se passa nas entrelinhas de alguns produtos que frequentam nosso cotidiano e mobilização política mínima para não pactuar com aquilo que contribui para o brilho da mercadoria. Sim, que contribui para o brilho da mercadoria, mas que, por isto mesmo, pode facilmente obnubilar o nosso olhar.

==

Aproveito para compartilhar documento da Embrapa, de 2010, em que estas e outras informações podem ser encontradas: "Queimada na colheita de cana-de-açucar: impactos ambientais, sociais e econômicos".

http://www.cnpm.embrapa.br/publica/download/Doc_77.pdf

==

Fonte da imagem:http://unisite.com.br/Saude/21938/Cortador-de-cana-apresenta-sintomas-de-exaustao-e-outras-enfermidades-causadas-pelo-trabalho.xhtml

Comentários

Postagens mais visitadas